Aquarelas

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

MINHA HISTÓRIA

Ele vinha sem muita conversa, sem muito explicar • Eu só sei que falava e cheirava e gostava de mar • Sei que tinha tatuagem no braço e dourado no dente • E minha mãe se entregou a esse homem perdidamente, laiá, laiá, laiá, laiá • Ele assim como veio partiu não se sabe prá onde • E deixou minha mãe com o olhar cada dia mais longe • Esperando, parada, pregada na pedra do porto • Com seu único velho vestido, cada dia mais curto, laiá, laiá, laiá, laiá • Quando enfim eu nasci, minha mãe embrulhou-me num manto • Me vestiu como se eu fosse assim uma espécie de santo • Mas por não se lembrar de acalantos, a pobre mulher • Me ninava cantando cantigas de cabaré, laiá, laiá, laiá, laiá • Minha mãe não tardou alertar toda a vizinhança • A mostrar que ali estava bem mais que uma simples criança • E não sei bem se por ironia ou se por amor • Resolveu me chamar com o nome do Nosso Senhor, laiá, laiá, laiá, laiá • Minha história e esse nome que ainda carrego comigo • Quando vou bar em bar, viro a mesa, berro, bebo e brigo • Os ladrões e as amantes, meus colegas de copo e de cruz • Me conhecem só pelo meu nome de menino Jesus, laiá, laiá • Os ladrões e as amantes, meus colegas de copo e de cruz • Me conhecem só pelo meu nome de menino Jesus, laiá, laiá, laiá, laiá

Letra e Música: Chico Buarque


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